terça-feira, 8 de abril de 2014

Foi na região Centro-Oeste onde se desenvolveu um grande romance romântico escrito por Visconde de Taunay com características regionais.
Nessa época a região havia passado e estava passando por diversas dificuldades.
As bandeiras portuguesas alcançaram o atual estado do Mato Grosso a partir da 2ª metade do século XVI, e no início do século XVII descobriram jazidas de ouro na região de Cuiabá, no Mato Grosso, e no sul de Goiás. A busca incessante pelas riquezas minerais comprometia até mesmo o desenvolvimento da lavoura de subsistência, inclusive pela proibição da coroa em realizar a atividade mineradora, no ano de 1732. A mineração só poderia ocorrer sob a supervisão da coroa portuguesa.
Assim em 1747, Portugal resolveu dividir a região nas capitanias do Mato Grosso e do Goiás para ter uma melhor forma de exploração dos recursos minerais oferecidos por ambos.
Na região da Chapada dos Guimarães ocorreu a centralização das principais atividades agrícolas que alimentavam a mineração, complementadas pelo desenvolvimento da criação de gado. Os problemas da mineração, criados com o desvio da mão de obra para atender o desenvolvimento social desses núcleos e a insuficiência técnica na organização e execução dos trabalhos de garimpagem, reduziram a eficiência do esforço. Mas no início do século XIX, a mudança de atitude da administração colonial, permitindo a lavra de diamantes, deu novos rumos ao povoamento.
Após os conflitos com o Paraguai, ocorreram outros interesses na região. A preocupação com o povoamento na região do Pantanal proporcionou a expansão da pecuária, incrementando as relações comerciais com o Triângulo Mineiro.
Uma das principais especiarias dessa região é seu famoso arroz com pequi, que é rico em vitaminas e sais minerais como a vitamina C, cuja função é ajudar a combater os radicais livres atuando em processos inflamatórios, auxilia no crescimento saudável dos dentes e dos ossos, ajuda na ingestão eficiente do ferro, combate doenças cardiovasculares, pressão arterial elevada, dentre outros.
Na falta da Vitamina C, o organismo adquire a doença escorbuto. O mesmo pode causar hemorragias, dores nas articulações, gengivite e feridas que não cicatrizam. Já no excesso dessa vitamina que possui pouca toxidade pode causar indigestão, particularmente quando ingerida de estômago vazio. Quando tomada em altas doses, a vitamina C pode causar diarreia. Sinais de intoxicação por excesso dessa vitamina podem incluir náusea, vômito, diarreia, dor de cabeça, rubor na face, fadiga e perturbação no sono. Como essa vitamina melhora a absorção de ferro, o envenenamento por esse mineral é possível em pessoas com desordens raras de acúmulo de ferro, como hemocromatose.
Um desses sais minerais é o selênio, que pode ser encontrado no arroz e na galinhada. Similar à vitamina E que tem a função de antioxidante, na formação do hormônio tireoidianio e promove o crescimento corpóreo. Sua dose diária depende de cada sexo.
O selênio pode ser encontrado no animal e na proteína vegetal (carnes e peixes, grãos, frutas, legumes e cogumelos).
O selênio é um componente de importante enzimas (na forma de enzima glutationa peroxidase) e ajuda as células do organismo de defesa.
Em pouca quantidade no organismo humano pode causar degeneração pancreática, sensibilidade muscular, mais propenso à causa de um câncer. Em excesso pode causar fadiga muscular, colapso vascular periférico, congestão vascular, queda de cabelo, dermatite, alteração dos esmaltes dos dentes e vomito.
Outro sal mineral que podemos destacar é o alumínio, que pode ser encontrado na mandioca, sendo um sal mineral que é utilizado na vedação de alimentos evitando o contato com bactérias, assim não causando doenças. E na purificação da água retirando as impurezas.
O alumínio que se encontra nas frutas, verduras e grãos, é o alumínio que se encontra no solo. A quantidade de alumínio que ingerimos pelo uso da frigideira, latas e panelas é muito pequena (cerca de 0,1 mg/dia) .
O alumínio pode ser encontrado também nas águas superficiais e subterrâneas. A utilização do alumínio na água é para a sua purificação, mas se utiliza o sulfato de alumínio, ou “alume”. O alumínio presente na água representa menos de 1 % de nossa ingestão diária de alumínio.
Utilizado em grandes quantidades causam efeitos neurotóxicos, alterando a atividade do sistema nervoso e causando danos ao tecido nervoso, afeta os ossos e desregula o sistema reprodutor.
Em meio a essa rica cultura e esse contexto histórico conturbado surge a obra literária Inocência.
Alfredo d’Escragnolle Taunay (1843-1899) nasceu no Rio de Janeiro. Bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio Pedro II, cursou Ciências Físicas e Matemáticas na Escola Militar. Recebeu uma educação familiar de espírito e gosto, típica dos naturalistas e pintores do “pitoresco”, especialmente franceses e alemães. Essa educação lhe daria certo destaque em nosso meio literário, artístico e social.
Taunay foi um dos principais escritores do regionalismo romântico. Do romantismo, assimilou a atmosfera lírica, presente em Inocência. Do regionalismo, a tendência a registrar os costumes locais. Deu vida a esse projeto com um estilo fluente e sedutor, marcas do grande escritor que ele foi.
O autor da obra considerada como o melhor romance regionalista do Brasil, “Inocência”, utilizou em sua história todos os elementos que representam o regionalismo. A descrição fiel e objetiva de uma região, os confrontos entre o homem do campo ou do sertão (que possui preconceitos contra os costumes da cidade) e o homem urbano (que é liberal em relação aos costumes e subestima o homem rural) são características presentes em “Inocência”, como melhor representante do gênero regionalista.
Inocência pode ser considerada a obra-prima do romance regionalista do nosso Romantismo. O autor soube unir ao seu conhecimento prático do país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, o seu agudo senso de observação da natureza e da vida social do Sertão brasileiro.
Resumo do enredo
Cirino, um rapaz muito curioso e de boa índole, viajava pelo sertão se apresentando como um médico dando consultas, quase sempre bem sucedidas, embora ele fosse apenas um farmacêutico.  Com o tempo ele conhece Pereira, um pequeno proprietário rural, que tinha uma filha que estava doente.
Ele aceita a hospitalidade de Pereira e cura a febre da filha do proprietário, chamada Inocência. Mas ao vê-la ele se encanta com sua beleza e se apaixona por ela. No entanto Inocência já estava prometida a um vaqueano, Manecão, e assim caracteriza-se a temática do romance: um amor impossível.
Quase que simultaneamente, um naturalista alemão chamado Meyer, que vagava pelos sertões caçando borboletas, apresenta-se na fazenda de Pereira, acompanhado de um cômico, e traz uma carta do irmão de Pereira, com algumas recomendações. Pereira recebe o naturalista de braços abertos, mas não entende que as galanterias que o alemão destina a sua filha, são apenas por educação, e assim passa a vigiá-lo. Conta isso para seu serviçal, um anão surdo e mudo, que se chama Tico. E sem entender nada do que está acontecendo, Pereira pede para Cirino ficar em sua casa até a partida do alemão, assim ele ajudaria a guardar sua filha.
Inocência e Cirino mal se falam, até que ele resolve lhe confessar sua paixão. Ele responde da maneira mais simples que alguém pode imaginar.
Em seguida ela acusa o falso médico de lhe virar o juízo por meio de algum feitiço, mas ele a convence que seu amor é sincero e Inocência também se descobre apaixonada por ele. Depois de se encontrarem algumas vezes as escondidas Cirino propõe a fuga como uma alternativa para a realização do amor dos dois. Inocência recusa-se a fugir com medo que seu pai a amaldiçoasse e sugere que o amado vá pedir ajuda de um padrinho dela, Antônio Cesário, por quem seu pai tinha grande admiração e respeito.
Enquanto isso, o naturalista alemão descobre uma nova espécie de borboleta e lhe da o nome de Inocência. Deixando assim o pai da menina indignado e cada vez mais vigilante. Logo o alemão vai embora, acabando assim com as suspeitas de Pereira. Cirino também viaja em busca do padrinho de Inocência. Ao mesmo tempo em que Manecão, o noivo prometido de Inocência, chega à casa de Pereira, porém Inocência se recusa a validar o compromisso e é espancada pelo pai. Através de mimica o servo anão, indica que o médico é o responsável pela recusa da garota. Indignado Manecão vai atrás de Cirino e o assassina.
O romance se passa nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
Principais Personagens
- Inocência: moça simples, moradora de zona sertaneja. É disputada por Cirino e Manecão, além de despertar o interesse do cientista Meyer.
- Cirino: jovem farmacêutico que, em viagem pelo sertão, conhece Inocência e se apaixona por ela. É assassinado por Manecão, a quem a moça foi prometida.
- Pereira: pai de Inocência, zeloso do compromisso de honra assumido com Manecão, a quem prometera entregar a filha em casamento.
- Meyer: cientista alemão, pesquisador de borboletas. Também se interessa por Inocência.
- Manecão: noivo de Inocência. Na disputa pelo amor da moça, assassina Cirino.
Os personagens são aqueles clássicos do romantismo, com as mesmas emoções e o mesmo sentimentalismo só que, adaptados ao quadro regional, deslocados para um cenário diferente, que acaba interferindo em seus destinos. As falas dos personagens trazem expressões locais demonstrando o uso da linguagem regional
O romance traz características comuns que existe entre as outras obras do regionalismo, mas a obra Inocência apresenta uma visão mais realista do que a média das obras. O tipo do sertanejo, por exemplo, é construído de forma menos idealizadora, sendo mostrado como briguento e dado a vícios, como o do jogo. Além disso, o narrador assume uma postura francamente crítica diante de certos hábitos sertanejos que são incorretos aos pensamentos do filosofo Francis Bacon, como o casamento por juramento, o paternalismo excessivo, o descaso para com as ciências e a condição feminina inferiorizada. Pode-se dizer que Inocência foi vítima da ignorância de Pereira e escrava de um pacto de honra em que ela entrou como moeda de troca.
O valor da Inocência não é reconhecido. Para o filósofo o livro deveria valorizar, e proporcionar resultados para seus objetivos. Para isso, ele tinha que se libertar dos ídolos que são as falsas noções, preconceitos e maus hábitos mentais.
Ídolos da tribo: falsas noções provenientes das próprias limitações da natureza da espécie humana. Na obra é verificado que os personagens tem uma dificuldade de se locomover, pois as cidades se encontravam à quilômetros de distancia uma das outras, além de o meio de transporte não acelerar a viagem, criando uma barreira natural que impedia a rápida comunicação e consequentemente a troca de informações. Podemos notar essa característica no início da obra, quando o personagem Cirino se encontra com Pereira após uma longa viagem e com um grande caminho pela frente, até chegar a uma cidade para hospedagem.
Ídolos do mercado ou do foro: falsas noções provenientes da linguagem e da comunicação. Naquela época os personagens acreditavam que adquiriam o conhecimento verdadeiro através da comunicação, pois nessa época existiam uma quantidade razoável de livros literários, porém a maior parte da sociedade sertaneja era analfabeta o que dificultava e impedia a busca por tal conhecimento, sendo o modo mais acessível de aquisição através da comunicação passada entre a família. Isso é perceptível quando o personagem Pereira pede ao estrangeiro alemão recém-chegado a sua casa, o senhor Meyer, para que leia para ele uma carta escrita por seu irmão.
Ídolos do teatro - as falsas noções provenientes das concepções culturais vigentes, como da cultura sertaneja que apesar de ser uma cultura muito rica não deixa uma abertura para a entrada de novas concepções. Podemos notar essa teoria no personagem de Pereira, que não aceita argumentos provenientes de diferentes culturas e que fica estagnado somente na concepção sertaneja e no conhecimento básico passado pela mesma.
Outro filósofo a quem podemos destacar na obra foi René Descartes que em sua teoria dizia: ‘’A importância da dúvida metódica’’ ele afirmava que, para conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida. É questionar tudo e analisar, criteriosamente, se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza. O cientista alemão Meyer, estudioso de borboletas, procurou novos conhecimentos a lugares diferentes, quer dizer, que através de sua dúvida procurou saber mais, para ter a certeza.
Nesse romance, o rigor do observador militar que percorreu os sertões mistura-se à capacidade imaginativa do ficcionista. O resultado é um belo equilíbrio entre a ficção e a realidade, raramente alcançado na literatura brasileira até então.
Essa obra deixa muito evidente a idealização da mulher e o machismo sertanejo.
Trechos de Inocência:
Idealização da Mulher
“Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.
Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado. Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.”
As mulheres do período da obra eram recatadas no modo de vestir, de falar, de se comportar a mesa, tinham problemas como todo e qualquer ser humano, mas a sua essência de idealização se mantinha acima de todo e qualquer defeito, ela era pura e virgem, sinônimo de pureza e beleza.
A obra idealiza a mulher por meio da personagem Inocência descrevendo seus traços simples e delicados, seu corpo franzino, mas de uma sensualidade particular e sua personalidade de mulher do interior até por vezes retratando uma certa ingenuidade
O objetivo das obras do período era retratar a mulher exageradamente recatada, pura, com traços delicados e com uma ideia de privações voltada para a família e o casamento.
Nos tempos atuais essa idealização de mulher perfeita existe, mas não esta relacionada a obras que são publicadas atualmente, esta ligada a imposição da mídia. A mulher deve ser bela, ter traços faciais delicados como os de modelo, deve ter cabelo liso, ser obcecada por cremes ante celulite e antiestrias, dietas mágicas, ter um corpo com silhueta bem marcada, deve ter silicone e, principalmente, para ficar bonita precisa ir ao cabeleireiro pelo menos três vezes por semana.
Portanto, se levarmos em consideração a comparação das mulheres dos dias atuais com as mulheres do período da obra, veremos que na verdade o que a maioria delas quer é aparecer na mídia e sobressair-se em relação aos homens, e nessa eterna competição o que mais interessa é curtir a vida.
Machismo
“- Eu repito, disse ele com calor, isto de mulher, não há que fia. Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam direitinhas que nem um fuso...Uma piscadela de olho mais duvidosa, era logo pau...Contaram-me que hoje lá nas cidades... arrenego!... não há menina, por pobrezinha que seja, que não saiba ler livros de letra de fôrma e garatujar no papel... que deixe de ir a fonçonatas com vestidos abertos na frente como raparigas fadistas e que saracoteiam em danças e falam alto e mostram os dentes por dá cá aquela palha com qualquer tafulão malcriado... pois pelintras e beldroegas não faltam... Cruz!... Assim, também é demais; não acha? Cá no meu modo de pensar, entendo que se não se maltratem as coitadinhas, mas também é preciso não dar asas ás formigas... Quando elas ficam taludas, atamanca-se uma festança para casá-las com um rapaz descente ou algum primo, e acabou-se a história...”
Na obra a mulher é descrita como submissa ao homem. Isso é expresso por meio de Pereira, um sertanejo criado no Mato Grosso em um meio cultural que a mulher não tem opinião sobre a própria vida.
O autor critica a repressão de Pereira em cima de Inocência. A mulher descrita na obra é quase que como uma “escrava” de seu próprio pai assim como quase todas as mulheres do período da obra, ela não tem uma liberdade para viver a sua vida sendo comandada em todos os aspectos pela sociedade machista da época.
Nos dias atuais isso é completamente modificado, a mulher é independente e não vive com a opressão dos pais ou de qualquer homem que tente oprimi-la a sociedade dos dias de hoje e bem mais avançada que do período da obra, não há mais um machismo exagerado, as mulheres passam a ter uma posição de destaque na sociedade chegando ao ponto de no Brasil uma se tornar presidente, que até então nunca na história desse país uma mulher conseguira alcançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário